“Chegará o dia em que teremos que provar ao mundo que a grama é verde”.
Essa frase, de autoria do escritor Gilbert Keith Chesterton no início do século XX, um período de grandes mudanças sociais e políticas, é o retrato fiel da crise de realidade que o Ocidente, de uma forma geral, vive há algumas décadas, mas principalmente a partir deste século. Sob falsos pretextos e narrativas dissimuladas, novas e velhas ideologias disputam espaço, e às vezes cooperam, na criação de um modelo de sociedade incompatível com os princípios e valores éticos e morais que a formaram. A principal vítima desse processo, a verdade, se transformou numa espécie de persona non grata na narrativa que sustenta a (des)ordem vigente.
Aliada a interesses políticos e de poder, essa dinâmica fortaleceu determinados grupos minoritários, que passaram a alimentar agendas totalitárias em troca de privilégios e suporte financeiro. Um ciclo perverso que obliterou a liberdade de expressão e intimidou o pensamento crítico e independente.
Batizado de cultura woke, movimento que surgiu e cresceu nas últimas quatro décadas, este processo agregou ideologias, teorias e práticas alinhadas com agendas globalistas, como a Agenda 2030 da ONU e o famoso protocolo ESG (environmental, social and governance), e causas progressistas. O termo, que significa "acordado", surgiu na comunidade afro-americana dos Estados Unidos nos anos 60 para destacar a necessidade de estar consciente das injustiças raciais. Cooptado pelos estudantes universitários a partir da década de 70, ele acabou sendo associado, de forma pejorativa, aos excessos de ativismo de alguns grupos de interesse e pelas narrativas de boa parte do establishment político e cultural.
Adversária do bom senso, da lógica, da meritocracia e da própria realidade, a cultura woke se disseminou por todos os países ocidentais e em várias outras partes do mundo. Universidades, partidos de esquerda e a mídia tradicional abraçaram seus valores e contribuíram para o seu fortalecimento, fazendo com que sua agenda obtivesse o monopólio do discurso em todos os níveis da sociedade. Nessa toada, houve um aumento da intolerância e da censura contra quem ousasse discordar de seus pilares. A própria linguagem foi submetida aos seus caprichos, fazendo surgir toda a sorte de expressões e neologismos. Termos como fascismo, nazismo, negacionismo, racismo, e outros ismos e fobias passaram a ser utilizados contra os opositores da agenda sem o menor compromisso com seu real significado. A guerra estava declarada.
Cancelamentos, perseguições por postagens em redes sociais, pronomes de gênero neutro fora das normas linguísticas (elu/delu, ile/dile, todes), adulteração de livros infantis e clássicos da literatura para remover ou alterar o que é percebido como conteúdo ofensivo, inclusão de estudos sobre raça, gênero e sexualidade em currículos escolares infantis e a revisão de conteúdos de filmes e séries de TV para atender à agenda de diversidade são alguns exemplos dos excessos cometidos nos últimos anos.
Mas a maré começou a virar. O início de mandato do presidente norte-americano Donald Trump desencadeou um movimento de reação de grande parte da sociedade americana contra essa agenda. A expressão "Revolução do Bom Senso", título deste artigo, foi usada por ele em seu discurso de posse para se referir a uma série de mudanças políticas e sociais que propõem um retorno a valores e práticas consideradas fundamentais e razoáveis para o povo americano.
Algumas de suas principais ações até o momento foram:
Reconhecimento legal de gêneros: Trump assinou uma ordem executiva que reconhece legalmente apenas dois gêneros, masculino e feminino, revertendo políticas anteriores que promoviam a agenda LGBTQ, além do fim da possibilidade de designações como “X” em documentos oficiais do governo, como visto e passaporte;
Fim dos Programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI): Retorno da meritocracia nos critérios de contratações e promoções do governo federal, com determinação para que todas as agências federais demitam funcionários ligados a programas de DEI e justiça ambiental;
Restrição do recrutamento de transgêneros no Serviço Militar: Atualização dos "padrões médicos" para garantir que os militares sejam preparados para "priorizar a prontidão e a letalidade", e não para atender pautas ligadas à ideologia de gênero;
Proibição de procedimentos de mudança de sexo em menores de idade: A ordem executiva, intitulada "Proteger as crianças da mutilação química e cirúrgica", declarou que os EUA não financiarão, patrocinarão, promoverão, auxiliarão ou apoiarão a chamada "transição" de uma criança de um sexo para outro, e define criança como qualquer pessoa com menos de 19 anos.
Estas e outras medidas representam uma tentativa de reverter políticas apoiadas pelo governo anterior que foram consideradas extremas, buscando um retorno ao senso comum e à defesa da liberdade de expressão e da democracia. Embora suas ações possam ser consideradas controversas, elas refletem uma reação contra o que a maioria vê como uma imposição ideológica que ameaça valores tradicionais e caros para a sociedade americana.
A cultura woke e suas implicações também têm gerado debates acalorados e divisões profundas na sociedade brasileira. Para o Brasil, é essencial refletir sobre essas questões sem abrir mão da liberdade de expressão e do pensamento crítico. A imposição de pautas ideológicas sem respeito às opiniões divergentes e às tradições culturais e religiosas pode gerar polarização, intolerância e ódio, exatamente o oposto do que essas ideias dizem defender.
Como disse Ayn Rand, filósofa do objetivismo e autora do clássico "A Revolta de Atlas", "Você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade". É fundamental que a sociedade busque um caminho que promova a justiça e tolerância, respeitando as escolhas individuais e protegendo os mais vulneráveis, sem cair em extremismos que possam comprometer a coesão social.
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