Correr riscos é entender o mundo
Quinto livro do Projeto Incerto, do qual fazem parte alguns de seus livros mais famosos como Antifrágil e A Lógica do Cisne Negro, Taleb nos presenteia com mais uma brilhante obra que trata fundamentalmente da importância da assunção de riscos e suas implicações em nossas vidas. Sua abordagem é dividida em quatro tópicos: a incerteza e a confiabilidade do conhecimento, a simetria em assuntos humanos, o compartilhamento de informações em transações e negociações, e a racionalidade em sistemas complexos e no mundo real.
Para Taleb, o conhecimento obtido através do processo de tentativa e erro, da improvisação e da experiência e repetição é imensamente superior àquele obtido através do raciocínio. Ele critica, ainda, o intelectualismo como crença de que se pode separar uma ação dos resultados de tal ação, de que sempre se pode consertar um sistema complexo por enfoques hierárquicos, isto é, de uma maneira (cerimonial) de cima para baixo. Uma das maldições da modernidade, segundo ele, é que estamos cercados por uma classe de pessoas que são melhores para explicar do que para entender, enquanto somos muito melhores em fazer.
Arriscar a própria pele mantém a soberba humana sobre controle, mas a transferência de riscos destrói os sistemas. Precisamos aplicar a simetria nas relações entre o indivíduo e o coletivo, não fazendo aos outros o que não gostaríamos que fizessem a nós (regra de prata). Ser corajoso é fundamentalmente assumir riscos sem causar dano a outros. A assimetria na exposição a riscos leva ao desequilíbrio e, potencialmente, à ruína sistêmica. A liberdade intelectual e ética exige não arriscar a pele dos outros por nós.
Em sociedade, ele alerta, a formação dos valores morais não vem da evolução do consenso, mas pela imposição da virtude dos mais intolerantes aos outros (regra da minoria) justamente por causa dessa intolerância - essas pessoas arriscam, mais do que ninguém, a própria pele. Precisamos, assim, sermos mais do que intolerantes com algumas minorias intolerantes. Simplesmente porque elas violam a regra de prata. As revoluções são indiscutivelmente conduzidas por uma minoria obsessiva, e todo crescimento da sociedade, seja econômico ou moral, vem de um pequeno número de pessoas.
Para Taleb, tudo que sobrevive ao tempo, seja uma ideia, uma civilização ou uma religião, estão insinuando para nós que têm alguma robustez – dependendo de serem expostos a danos. Aquilo que é frágil tem uma resposta assimétrica à volatilidade e a outros estressores, ou seja, sofrerá mais danos do que trará benefícios com ela. Fragilidade é sensibilidade à desordem, e sobrevivência é a capacidade de lidar com esta última.
Contrariando economistas comportamentais, ele não acredita que as pessoas têm aversão a riscos, e sim aversão à ruína ao assumir certa atitude aos riscos de cauda (extremos). Racionalidade é justamente evitar a ruína sistêmica. Risco e ruína, ele ressalta, são coisas diferentes.
Ao final, mais do que nos incentivar a correr riscos, Arriscando a Própria Pele nos incentiva a sermos corajosos, mas sem colocar familiares, amigos, comunidade, ou mesmo o ecossistema, em risco. Uma coragem virtuosa. Por outro lado, não devemos ignorar o que nos permite sobreviver. Um pouco de paranoia não faz mal a ninguém, até porque, nos eventos de cauda, basta que ela esteja certa apenas uma única vez para salvar a nossa vida.
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