O Velho e o Mar foi o último romance publicado em vida de Ernest Hemingway. Impresso na íntegra na edição de 1º de setembro de 1952 da revista Life, ele provocou um frenesi de compras - mais de cinco milhões de cópias da revista foram vendidas em apenas dois dias. A primeira edição em forma de livro foi publicada, no mesmo ano, pela Charles Scribner's Sons em Nova York. No ano seguinte, Hemingway receberia o Prêmio Pulitzer de Ficção pela obra e dois anos depois, em 1954, o Prêmio Nobel de Literatura.
Relativamente curto, quase um conto, o romance possui uma narrativa simples e linear - não há floreios e nem cenários ou personagens complexos, apenas uma boa história. Passada em algum lugar do litoral de Cuba, país de residência do autor durante 22 anos (1939-1960), ela descreve a luta de um velho pescador (Santiago), em seu pequeno barco, contra um enorme peixe em alto mar. Homem simples e endurecido pelo tempo, ele tem como seu melhor, e talvez único amigo, o garoto Manolin, que é também seu ajudante eventual e admirador. Narrado em terceira pessoa a partir do ponto de vista do personagem principal, Hemingway reforça e nos convence da credulidade de toda a ação, além de ajudar-nos a compreender melhor o personagem e suas motivações.
Sem pescar um peixe sequer há muito tempo, o experiente Santiago sai sozinho ao mar para tentar mudar sua sorte. Após um dia inteiro e bem longe da costa, ele encontra mais do que estava procurando. A luta contra o peixe, um marlin azul de grandes proporções, acaba durando dias e noites, e todo o sofrimento e dificuldade enfrentados pelo pescador são descritos de uma forma tão crua e direta que você chega a sentir o sal em sua pele e as mãos calejadas pela linha de pesca.
Demonstrando respeito e admiração por sua presa, Santiago, em sua simplicidade e humildade, a exalta como se estivesse exaltando a própria natureza e o mar, a quem chama carinhosamente de la mar. Nessa relação afetuosa com o peixe e o ambiente, ele se sente agradecido e conectado com o mundo que o cerca. Resoluto, o velho encarna a figura masculina de resiliência e coragem, uma personificação do homem rude, porém nobre nas suas ações.
Quando li o livro pela primeira vez há vários anos, eu fiquei empolgado com a simplicidade da narrativa e, ao mesmo tempo, profundamente impactado com o desfecho da história. Nessa releitura, sem mais nenhuma surpresa, procurei ficar mais atento aos detalhes e à caracterização do personagem. É reconfortante saber que, pelas mãos de um autor consagrado como Hemingway, é possível escrever bem sem precisar criar grandes arcos narrativos ou mesmo rebuscar seu texto com adjetivos ou elementos em demasia. A boa literatura é sempre aquela que nos encanta e surpreende.
É possível extrair do livro alguns simbolismos, como a luta do homem contra a natureza ou mesmo as dificuldades enfrentadas pelos menos afortunados, mas, ao final, o que realmente se apresenta é a vida como ela é, crua e sem adereços. E talvez essa seja a marca registrada do autor, um homem que viveu no limite numa época em que as decepções com o mundo dito civilizado eram maiores do que muita gente conseguiria suportar.
Notas sobre o autor:
Ernest Miller Hemingway (1899-1961) pode ser considerado um mais importantes escritores norte-americanos e também um ícone cultural do século XX. Ainda muito jovem, logo após terminar o ensino médio, foi para Europa para servir na Primeira Guerra Mundial. Preterido pelo Exército por causa de uma problema de visão, acabou sendo motorista de ambulância na Cruz Vermelha. Jornalista e escritor, trabalhou como correspondente de guerra em Madrid durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Esta experiência inspirou uma de suas maiores obras, Por Quem os Sinos Dobram. Ao fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), mudou-se para Cuba, local que conheceu na década de 30 durante uma pescaria oceânica. Levando uma vida nada trivial e dono de uma personalidade excêntrica, Hemingway casou-se quatro vezes, além de ter tido vários relacionamentos românticos. Em 1953, ganhou o Prêmio Pulitzer de Ficção, e, em 1954, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Suicidou-se em Ketchum, em Idaho, em 1961.
Segundo a professora e autor Mary Loeffelholz, seus romances e contos unificam forma e conteúdo numa prosa cujo estilo elimina todas as palavras em excesso, evitando o supérfluo e o desnecessário. Essa disciplina para usar de maneira comedida os recursos da linguagem acabou gerando efeitos literários notáveis. Autor de grandes obras como O Velho e O Mar, Por Quem os Sinos Dobram, Paris é Uma Festa, O Sol Também se Levanta e Adeus às Armas, entre outras, Hemingway fez parte da chamada Geração Perdida, termo atribuído a Gertrude Stein e popularizado por Hemingway, que o usou como epígrafe em seu livro O Sol Também se Levanta e em suas memórias no livro Paris é Uma Festa. O termo é usado para designar a geração (1883-1900) que lutou durante a adolescência na Primeira Guerra Mundial e viveu a vida adulta durante os Roaring Twenties até a Grande Depressão. Ela era composta por um grupo de celebridades literárias americanas que viveu em Paris e em outras partes da Europa entre a Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão.
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