top of page

Paralaxe cognitiva - Olavo de Carvalho

A negação da realidade

Você já deve ter se perguntado porque algumas pessoas se negam a enxergar a realidade que está diante delas para acreditar firmemente em narrativas que se encaixam no que elas desejam ou supõem acreditar, mesmo que todas as evidências apontem o contrário. Hipocrisia, cinismo ou desonestidade? Num mundo contaminado por ideologias que insistem em capturar sua atenção para vender uma visão de mundo muitas vezes utópica, abraçar a realidade é mais do que fincar os pés no mundo, é estabelecer uma coerência entre o seu discurso e a sua experiência real.


Fenômeno psicológico estudado por Olavo de Carvalho, a paralaxe cognitiva parte deste princípio, ou seja, ela ocorre quando há uma discrepância entre o que se acredita saber e a realidade. Olavo a definiu como sendo o deslocamento do eixo da experiência real e o eixo da construção teórica do indivíduo que está fazendo esta construção. Pela premissa fundamental, esses eixos deveriam coincidir, mas se não coincidem, algo está errado.


Quando alguém teoriza sobre a realidade, mas essa teoria não se alinha com o que essa pessoa vive ou experimenta, cria-se uma espécie de contradição ou distorção entre sua ideia e sua existência concreta. Olavo via isso como um problema comum em muitos filósofos modernos e até entre cientistas, que acabavam se desconectando do mundo real em suas abstrações e descobertas. Ele concluiu que não é possível elaborar uma teoria que se aplique a todos os seres humanos, mas não a si mesmo. Desta forma, o indivíduo não poderia, vivendo a realidade, excluir-se do mundo real e falar sobre a realidade.


Para ele, a paralaxe cognitiva não é um erro de lógica e nem de observação, é um desvio de foco que deixa de incluir no campo dos fenômenos abrangidos certos fatos que pertencem a ele de forma eminente, prioritária e imediatamente perceptível. Ela nada tem a ver com hipocrisia, fingimento consciente ou com a infidelidade do indivíduo com seus próprios princípios. Ela é uma contradição psicológica e um déficit de consciência, uma forma de estupidez específica que é desastrosa para o progresso humano de uma forma geral.


A incidência da paralaxe cognitiva é, portanto, um sintoma de uma crise mais ampla: a perda da capacidade de ancorar o pensamento na realidade palpável. Num tempo em que ideologias competem por nossa atenção, o desafio não é apenas reconhecer esse desvio, mas superá-lo, realinhando o eixo da teoria com o da experiência. Só assim o homem pode escapar dessa sutil armadilha da consciência e retomar o caminho rumo a uma compreensão autêntica do mundo e de si mesmo.


Hoje, infelizmente, contatamos que esse fenômeno se alastra como uma epidemia silenciosa, alimentado por um mundo que premia a adesão cega a narrativas em detrimento da coragem de enfrentar os fatos. Sua incidência revela não só a fragilidade da mente humana, mas também a sedução das utopias que nos afastam do real. Resta perguntar: até quando preferiremos o conforto da distorção à lucidez que a realidade exige?


Como já dizia Olavo, "a realidade é o critério de tudo, ela é o juiz implacável que valida ou refuta nossas concepções". Para ele, qualquer teoria, ideia ou discurso que não se sustentasse diante da experiência concreta estava fadado ao erro ou à irrelevância. Ele criticava os intelectuais que se perdiam em construções teóricas sofisticadas, mas desconectadas do mundo real, como uma forma de escapismo ou autoengano.

Olavo argumentava, ainda, que muitas pessoas interpretam o mundo através de lentes ideológicas, especialmente as de esquerda, que distorcem sua percepção da realidade. Esses filtros ideológicos seriam a causa primária da paralaxe cognitiva. Para ele, a "mentalidade revolucionária" promove uma inversão da realidade, onde valores tradicionais são demonizados e vícios são glorificados. A paralaxe cognitiva seria, portanto, uma consequência dessa inversão, impedindo as pessoas de verem a ordem natural das coisas.


Para combater a paralaxe cognitiva, Olavo defendia o estudo da filosofia clássica e da tradição intelectual ocidental. Ele acreditava que o conhecimento filosófico sólido ajuda a desenvolver o senso crítico e a capacidade de discernir a verdade, algo que ele considerava essencial para uma vida intelectualmente honesta.


"A ideologia é uma máquina de fugir da realidade."

Olavo de Carvalho












Comentarios

Obtuvo 0 de 5 estrellas.
Aún no hay calificaciones

Agrega una calificación
bottom of page