Uma das coisas que eu considero mais curiosas e, ao mesmo tempo, irritantes de se ouvir é: "O que eu vou ganhar com isso?"
Resolvi escrever sobre essa questão porque ela está relacionada com o valor que se dá ao trabalho. A capacidade de trabalhar, para mim, é a maior virtude do homem, junto com a capacidade de amar. Sendo o trabalho uma virtude, é obvio que precisa ser conquistada e desenvolvida.
Mas não estou falando em trabalho não remunerado, estou fazendo um paradoxo com o amor, até porque você não diz para alguém que quer que ame você: "O que eu ganho com isso?"
E se nem a pessoa que ama você tem custo zero para lhe amar, então por que, para a inovação e para o trabalho, existe predominantemente este pensamento de que se vai ganhar mesmo sem antes ter realizado ?
Para mim, trata-se de um problema de cultura, de muita falta de fé em si mesmo e nas pessoas, principalmente aquelas que se esforçam, abrindo oportunidades, se expondo. Associado a isso, há também a falta de confiança na justiça (insegurança jurídica), contaminando a sociedade como um todo.
É uma contradição pessoas que dizem que são inovadoras e que querem transformar o mundo, iniciarem um trabalho desafiador perguntando: "O que eu vou ganhar com isso?"
Ganhos podem ser recebidos de diversas formas: Existe o ganho pelo reconhecimento, existe o ganho financeiro, existe o ganho de networking, existe o ganho de legado, e existe o ganho de VIDA, viver a vida e fazer coisas que orgulhem as pessoas.
Será que as pessoas que perguntam o que eu ganho com isso estão esquecendo de viver suas vidas com intensidade, autoestima, um pouco de risco?
Assumir riscos e responsabilidades são características básicas que todo empreendedor deve ter. E isso se choca com o tipo de ideologia que predomina em parte da sociedade, uma ideologia que faz com que as pessoas prefiram transferir riscos e não se responsabilizar pessoalmente por nada.
Assim como acontece com outras virtudes, temos um crise de valores que subverte o sentido da relação causal entre esforço e resultado. Muitos querem ganhar sem se esforçar, ou por acharem que herdaram algum tipo de merecimento ou por acharem que o "mundo" lhes deve isso.
Aqueles que realmente querem inovar e trabalhar para deixarem seus legados e, com isso, transformar o presente e o futuro da nossa sociedade, não se deixam levar pelo "canto da sereia". Eles sabem que só com muito esforço, ousadia e coragem é que superarão os obstáculos que dificultam sobremaneira o florescimento do espírito empreendedor. O espírito que encarna o desejo de liberdade que existe em cada ser humano.
Colaboração de Dalmo Moreira Jr.
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