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Foto do escritorDalmo Moreira Junior

Red Umbrella News - Edição Especial

Atualizado: 30 de jul.


Seminário Empreender com Filosofia


Nos dias 6 e 7 de julho, Florianópolis foi sede do primeiro evento promovido pelo Red Umbrella, o Seminário Empreender com Filosofia. Realizado no Recanto Champagnat, localizado no alto da Lagoa da Conceição, o evento contou a participação especial de Bruna Torlay, graduada e mestre em filosofia pela Unicamp, além de editora e diretora de conteúdo da Revista Esmeril. Professora de História da Filosofia Moderna no Instituto São Boaventura, Bruna também ministra cursos livres na plataforma www.brunatorlay.com.br, onde se destaca o Ascenção da Inteligência, um exame completo da obra de Platão, diálogo por diálogo.


O Seminário teve como objetivo fazer uma ponte entre o mundo do empreendedorismo e a filosofia clássica (ou filosofia perene), abordando temas como amizade, trabalho, cooperação e vocação. Um sopro de cultura e vida intelectual para pessoas acostumadas a inovar e resistir às mais duras provas de resiliência no ambiente altamente competitivo do mercado brasileiro.


A agenda do Seminário contou com várias atividades, incluindo palestras, aula com vinho, sala de autógrafos e gravação de podcasts.


Vamos a elas.


Abertura

Na abertura do Seminário, a coautora e uma das maiores incentivadoras do Red Umbrella, Diana Finkler, deu as boas-vindas aos participantes e convidados e apresentou a agenda do evento.


Em sua palestra de introdução, Diana destacou o caráter disruptivo do seminário, que trazia, de forma inovadora, o conhecimento perene da filosofia clássica para o mundo empresarial.


Concebida no final de 2023, a ideia do seminário foi a concretização não apenas de um sonho, mas de um desdobramento da missão precípua do Red Umbrella, que é a de promover a cultura, disseminar conhecimento e incentivar a inovação por meio da literatura, da ciência e das boas ideias.


Uma breve visão do mundo literário

Na palestra seguinte, Renata Castro, coautora do Red Umbrella e criadora do Red Umbrella Money, apresentou dados e informações relevantes sobre o mercado de livros no perfil dos leitores no Brasil. As fontes são de pesquisas da Nielsen BookData e do Ibope Inteligência.


Num país com a população do Brasil, a produção e venda de livros ainda é pequena frente ao potencial de leitores do país. Em 2023, foram vendidos cerca de 328 milhões de unidades, com uma participação expressiva do governo neste total (aproxidamente 23% do total).


Em relação aos compradores de livros, apenas 16% da população com mais de 18 anos comprou ao menos um livro nos último doze meses. O que chamou a atenção foi a distribuição praticamente equivalente entre as 5 regiões do país, o que mostra que as diferenças regionais não influenciam no comportamento de compra. Entre homens e mulheres, entretanto, há uma participação ligeiramente maior das mulheres no total de compradores em relação aos homens (57% x 43%).


Quando avaliamos por formação e por ocupação, temos a constatação óbvia de que mais de 91% possuem pelo menos nível médio, mas em relação à ocupação, apenas 3% deles são empresários, enquanto que os empregados do setor privado estão no topo da lista com 30%. Outro dado relevante apresentado foi o número de livros comprados por ano: 69% das pessoas afirmaram que compraram até 5 livros nos últimos 12 meses, números bem abaixo de países como Portugal (8), Coreia do Sul (11) e Estados Unidos (12), por exemplo.


Ao final, podemos resumir o quadro preocupante sobre a leitura no Brasil com o seguinte dado: apenas pouco mais da metade da população tem hábitos de leitura (52%), mas existem paradoxos como a Bienal do Livro, onde são vendidos milhões de livros a cada edição (cerca de 9 por pessoa na última edição no Rio de Janeiro. Onde estão esses leitores?


A pesquisa da Nielsen mostra, ainda, que o poder das redes sociais em disseminar cultura e influenciar gostos literários: mais da metade dos compradores de livros citaram as redes sociais como atividade preferida de lazer, acima da própria leitura em si.


Para quem quiser acessar a apresentação na íntegra, ela será disponibilizada na nossa Comunidade.


A importância da literatura e do cultivo de uma uma vida intelectual

Na apresentação seguinte, o idealizador e criador do Red Umbrella, Dalmo Moreira Jr., reforçou a importância da arte e da linguagem para elevar os debates num mundo tão polarizado.


Ao citar um dos maiores críticos literários do século XX, Northrop Frye, ele ressaltou o valor da literatura para o fortalecimento do nosso poder imaginativo e também como instrumento de liberdade, tolerância e compreensão do mundo a nossa volta.


Ao explicar as razões pelas quais o Red Umbrella foi criado, Dalmo explicou que a atividade intelectual em si alimenta nosso amor pelo aprendizado, e esta atividade não pode ser deixada apenas na mão de especialistas ou acadêmicos, ela deve ser praticada por todos nós. O uso da inteligência deve ser livre e voltado para a ampliação e aprofundamento da nossa capacidade de compreender a verdade. O Red Umbrella teria então o objetivo de disseminar, livremente, a cultura e o saber em diversas áreas do conhecimento, além de incentivar a discussão de temas que estejam acima de objetivos meramente políticos, econômicos ou ideológicos.


E foi com este objetivo em mente, que surgiu a ideia de realizar o Seminário. Ao levar o conhecimento perene da filosofia clássica a empresários e empreendedores, demonstramos que as questões que nos desafiam no dia-a-dia já foram, de alguma forma, respondidas por filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles. Ensinamentos que elevaram o alcance da inteligência humana e formaram a base da civilização ocidental.


Amizade: motor da sociabilidade - o papel das emoções nos sistemas de cooperação afetivos

Na palestra principal, Bruna Torlay discorreu sobre o impacto das emoções na comunicação, sobre amizade e sobre a natureza da cooperação na vida humana - todos temas sensíveis nas relações de trabalho e no próprio ato de empreender.


As emoções são o molde no qual as palavras são recebidas e sujeitas à interpretação. Como somos seres racionais, é imperativo tentar entender como as emoções definem nossa vida como um todo, tanto na esfera privada como na pública. Ao citar "Ética e Nicômaco", investigação filosófica de Aristóteles sobre a virtude, o caráter e a boa vida, Bruna ressaltou que o desafio que ele nos faz é gerir a nossa vida emocional com inteligência. As nossas paixões, quando bem exercidas, têm sabedoria. Para o filósofo, o problema não é a emocionalidade, mas o sentido da emoção e das suas expressões.


Ao aprendermos a lidar com nossas emoções, passamos a lidar melhor com o outro, ou seja, desenvolvemos a capacidade de nos comunicar de forma mais efetiva e racional. E essa habilidade num ambiente cooperativo é fundamental para estabelecer laços de amizade, que são uma necessidade primacial da vida, uma virtude que implica virtude. É uma extensão do amor ao próximo.


E quais são os tipos de amizade que existem?

  • Amizades pelo Bem: único tipo perfeito, pois dura tanto quanto ambos os envolvidos mantêm seu caráter;

  • Amizades por utilidade: dependente da vantagem recebida;

  • Amizades por prazer: ancorada no prazer da companhia dos semelhantes a nós.


Em relação à natureza da cooperação humana, Bruna ressaltou que, quando você percebe como o ser humano organiza a sociedade organicamente, é sempre de baixo para cima com base na amizade e no esquema cooperativo. A cooperação seria uma extensão das habilidades individuais (vocação) e a sociedade seria o resultado direto de sistemas de cooperação. O trabalho em equipe, então, seria uma constante na vida humana.


Ela citou como exemplo óbvio de sistema de cooperação as empresas, que se organizam em torno de uma missão comum mobilizando vocações articuladas. E como exemplo não óbvio a cultura, onde temos vivos e mortos pensando sob o mesmo horizonte.


Mas como as emoções interferem nos sistemas cooperação? Na cooperação azeitada pelas emoções positivas há o reconhecimento da necessidade de articulação de vocações distintas, com definições claras do papel que cada um exerce na organização, desde os assistentes e auxiliares até o CEO. Quando a cooperação está sob interferência das emoções negativas, temos crise, competição interna, concorrência desleal, assédio moral permanente e várias outras consequências destrutivas. O excesso de sentimentalismo seria uma interferência negativa.


Emoções são determinantes em qualquer atividade que realizemos. A alegria é o estado derivado da consciência de busca da felicidade e caminha ao lado do prazer, o qual não se contrapõe à excelência; é seu efeito. O prazer, leme da educação, é um efeito positivo do exercício de uma habilidade e, por isso, aperfeiçoa o exercício de uma faculdade. O prazer verdadeiro acompanha as atividades próprias ao ser humano.


As emoções negativas estão intimamente ligadas à improdutividade. Elas geram inimizades, negação da sociabilidade e perversão da temperança. Bruna citou como exemplo o sistema educacional brasileiro, marcado por tensões cruzadas, regras de conduta engessadas por políticas inflexíveis e indiferença pessoal entre professores e alunos.


Ao final, Bruna reforçou o papel da vocação na vida profissional. Seja qual for, ela é aquilo que extrapola nossa interioridade o tempo inteiro, exprimindo o vínculo geral que temos com o próximo - desconhecidos e conhecidos. Ela influencia diretamente nos negócios ao possibilitar a criação de produtos novos, remodelação de serviços, reorganização de espaços, distribuição de produtos etc.


Sessão de autógrafos

Logo após o almoço, tivemos uma sessão de autógrafos do livro O Mínimo sobre Platão, de Bruna Torlay, e da cópia impressa do eBook "A eficácia sob o ponto de vista chinês", de Dalmo Moreira Jr.


"O Mínimo sobre Platão" sintetiza, com perfeição, o legado de um dos maiores filósofos da Antiguidade, e o único cuja obra foi integralmente preservada até os dias de hoje.


"A eficácia sob o ponto de vista chinês" é a síntese da obra do sinólogo francês François Julliens, uma obra essencial para entender o eterno debate intelectual entre Leste e Oeste e um mergulho nas origens milenares das duas formas de pensar e ver o mundo.






Red Umbrella Money - uma breve conexão entre finanças comportamentais e empreendedorismo


Criado por Renata Castro, o Red Umbrella Money tem como objetivo incentivar a educação financeira e oferecer soluções para pessoas endividadas. Na palestra que se seguiu logo após a sessão de autógrafos, Renata fez uma conexão entre a economia comportamental e o empreendedorismo.


Ao destacar que 1/3 dos empreendedores misturam suas finanças pessoais com a da empresa (dados da B3), Renata alertou para as consequências desse comportamento na sustentabilidade financeira dos negócios. Muitos empresários acabam se tornando reféns do dinheiro que entra para a empresa ou na sua vida pessoal, criando dívidas que se tornam, muitas vezes, impagáveis.


E por falar em dívidas, de acordo com um estudo recente (PEIC, jun, 24), 78,8% das famílias brasileiras estão endividadas, sendo que 28,8% estão com dívidas atrasadas. As causas são tanto estruturais quanto comportamentais.


Usando como exemplo os fundamentos da economia comportamental, Renata mostrou que 95% das nossas tomadas de decisão são comandadas pelo nosso lado irracional (emocional). A grande maioria das decisões ruins estão diretamente ligadas às crenças e à falta de conhecimento, que acabam se transformando em vieses comportamentais ou vieses cognitivos. Vieses que alimentam determinados hábitos de consumo que podem levar a endividamentos excessivos.


Ao final, dentro do espírito do seminário, Renata usou uma frase de Aristóteles para reforçar a importância do hábito na busca pela excelência:


"Nós somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, portanto, não é um ato, mas sim um hábito."


Ela concluiu, ainda, que o fato de sermos uma nação que lê pouco e conhece menos ainda sobre como o sistema financeiro funciona, impacta diretamente na nossa capacidade de gerarmos riqueza individual e coletiva.


Vários Erres

E não poderia faltar a apresentação da uma empreendedora guiada pela vocação. A gaúcha Elis Regina B. Mignoni apresentou a Vários Erres, uma empresa inovadora no comércio de roupas e acessórios de segunda mão que tem a curadoria como diferencial. Ao priorizar alta qualidade, conforto e atemporalidade, suas peças nunca saem de moda. Seu modelo de negócio arrojado compreende pesquisas, precificação inteligente, ouvidoria, tecnologia para viabilizar a operação e melhoria contínua no processo de curadoria. Uma empresa moderna e sustentável.


Citando dados do mercado têxtil, Elis destacou que a indústria da moda é a segunda mais poluidora do mundo, atrás apenas da indústria petrolífera. Segundo levantamento publicado pela Global Fashion Agenda em 2023, o consumo de roupas é responsável por mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis nos últimos anos. Nos próximos oito anos, a emissão de resíduos poluentes deve aumentar 60%. Além disso, existe um enorme desperdício de matéria-prima (tecidos que poderiam ser reutilizados) e altas emissões de carbono (cerca de 10% do total de emissões da humanidade), causando um grande impacto ambiental.


A criação de uma empresa nesse segmento é uma iniciativa totalmente alinhada com os princípios da economia circular e com os objetivos de desenvolvimento econômico sustentável.

Já foram mais de 1.200 peças comercializadas e mais de 2.000 peças doadas para 5 projetos sociais, evitando que cerca de 1,3 toneladas de roupas fossem parar em aterros. Consumo consciente e inteligente que agrada e ajuda na preservação do planeta.


Localizada em Erechim, interior do Rio Grande do Sul, a Vários Erres atua tanto no varejo físico como no e-commerce.


Quanto à vocação, Elis explicou como decidiu mudar radicalmente de carreira, saindo do mercado corporativo para se tornar empreendedora. Um exemplo de coragem e ousadia que reforça o papel, já citado por Bruna, da vocação na vida profissional.



O papel das vocações na vida profissional

Para incrementar a experiência dos presentes no primeiro dia, Bruna Torlay falou mais sobre o papel da vocação na vida profissional. Enquanto todos degustavam vinho e experimentavam uma prato típico da culinária local, Bruna ressaltou a importância da vocação para fazermos o melhor para o próximo enquanto empreendedores e profissionais. Ela destacou, ainda, que é o atendimento da nossa vocação que nos permite sobreviver e nos manter íntregros no ambiente de trabalho.



Podcasts

Ao final do primeiro dia e logo após o almoço de encerramento do segundo, gravamos dois podcasts especiais com a Bruna Torlay onde foram debatidos dois temas relacionados ao conteúdo do seminário:

  1. O valor da amizade no empreendedorismo, com Diana Flinker, Dalmo Moreira Jr. e Eduardo Marckmann

  2. Vocação, transição de carreira e inovação, com Renata Castro, Elis Regina Mignoni e Diego Gabbi


As gravações serão disponibilizadas em breve na nossa Comunidade.


Agradecimentos especiais

Além de todos que participaram do seminário, não poderíamos deixar de fazer um agradecimento especial à equipe responsável pela montagem, operação e suporte do evento:






Da esquerda para direita:


Letícia Zanchet - estrutura e operação

Luana Giazzon - comunicação

João Vitor Sales - suporte técnico








A todos que estiveram presentes e contribuiram com o sucesso do seminário, nosso muitíssimo obrigado.


Fechamento

Ao tratar de assuntos eternos que continuam relevantes até hoje, o seminário provou que a filosofia é para todos, pois somos seres racionais e cooperativos. Ler, aprender e filosofar nos ajudam a compreender melhor a realidade e desenvolver o autoconhecimento necessário para convivermos melhor em sociedade.


Como já dizia Santo Agostinho, o amor pelo aprendizado pode mudar uma vida e ser fonte de aspirações mais elevadas - conhecer, amar e fazer a humanidade prosperar em plenitude.






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