Inesperadamente encantador
São raríssimas as ocasiões em que você sai do cinema extasiado com o que assistiu, e Robô Selvagem é uma delas. Dirigido e roteirizado de forma brilhante por Chris Sanders, o mesmo de Como Treinar Seu Dragão, Lilo & Stitch e Os Croods, a animação é uma obra única, repleta de emoção, beleza e, sobretudo, de humanidade.
Rozzum 7314, ou Roz, é uma robô construída para realizar tarefas domésticas que, por acidente, acaba parando numa ilha desabitada por humanos, mas repleta de animais selvagens. Programada para servir e receber ordens, ela se vê desprovida de utilidade ao se deparar com um ambiente nada amistoso. Persistente em sua missão de cumprir os objetivos para os quais foi criada, Roz busca aprender a se comunicar com os animais da ilha para oferecer suas habilidades a quem precisar.
Preocupados apenas em seguir seus próprios instintos e sobreviver, a maior parte dos animais a veem como um monstro e a rejeitam. Perdida e sem função, Roz faz uma tentativa frustrada de contatar seu fabricante, mas acidentalmente destrói um ninho de ganso e se depara com um ovo ainda não chocado. Ao impedir uma raposa de comê-lo, o ovo acaba se chocando e ela se vê, finalmente, com um propósito: fazer com o que o pequeno ganso sobreviva e voe com seus semelhantes para o sul antes do inverno chegar.
Batizado de Bico Vivo, o pequeno ganso passa a vê-la como sua mãe. Sem saber como lidar com essa situação, que está além de sua programação, Roz conta com a ajuda da própria raposa para ensinar Bico Vivo a cumprir as etapas necessárias para migrar com os outros gansos da ilha. No processo, ao interagir com os outros animais, ela vai aprendendo o sentido do seu novo papel e superando a sua própria programação de simplesmente cumprir tarefas. Os animais, por outro lado, reconhecem seu exemplo e passam a cooperar entre si, superando sua natureza selvagem dentro daquele ecossistema.
Fugindo completamente dos clichês das animações, principalmente da Disney, que mostram os animais antropomorfizados bonzinhos ou estereotipados, o filme mostra a natureza como ela realmente é: agressiva e cruel, apesar de toda a sua beleza. Mas por incrível que pareça, isso torna o filme mais leve, justamente por lidar com a questão da morte como parte da vida. Não apenas da morte, mas também da perda de um forma geral.
Um dos aspectos interessantes da animação é que ela se passa num futuro onde os seres humanos, após um evento apocalíptico não mencionado, passam a viver em grandes cúpulas com ambientes controlados, e robôs, como a Roz, executam a maior parte das tarefas antes destinadas às pessoas. Um futuro onde a tecnologia, criada por nós, desempenha um papel crucial para nossa sobrevivência. O filme, entretanto, não foca nesta questão, mas mostra o quanto a vida pode ser valorizada mesmo num mundo automatizado e submetido a uma lógica racional. E é isso que Roz, uma inteligência artificial que aprende valores intrinsicamente humanos, como maternidade, fraternidade e sacrifício por um bem comum, acaba nos ensinando. Ela nos supera justamente naquilo que, cada vez mais, estamos nos afastando.
A compreensão da importância desse valores, tão característicos da nossa humanidade, se transforma numa das grandes lições que o filme nos presenteia. Talvez algumas pessoas não consigam perceber essa mensagem justamente pela forma distorcida ou excessivamente egoísta como encaram a realidade, mas posso garantir que a maior parte delas sairá inevitavelmente tocada na humanidade que ainda preservam dentro de si.
Além do roteiro brilhante, a beleza do filme é estonteante. Com cores vivas e cenários deslumbrantes, em alguns momentos você tem a impressão de estar vendo pinceladas num quadro impressionista. Chega a ser hipnótico a forma como a natureza se transforma durante as mudanças de estações e nos momentos mais dramáticos do filme.
Vale destacar que a história se baseia num livro do escritor Peter Brown, autor e ilustrador de diversos livros infantis que foram best-sellers em vários países. Você pode encontrá-lo na Amazon nas versões para Kindle, audiolivro e capa comum.
Se ainda não assistiu ao filme, vá e deixe-se envolver. Se já assistiu, deixe seu comentário contando o que achou.
"Às vezes, para sobreviver, a gente tem se que tornar mais do que foi programado para ser."
Assista abaixo ao primeiro trailer oficial:
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