A jornada da humanidade pela perspectiva da psicologia evolutiva e a busca pela felicidade
Para quem gosta de ler conteúdo científico, mas sem o rigor característico de leituras mais acadêmicas, A Evolução Improvável é um prato cheio com muita antropologia, história, biologia e psicologia.
Recheado de referências a estudos e pesquisas, Willian Von Hippel nos traz em uma linguagem acessível e, muitas vezes, de uma perspectiva muito pessoal, a trajetória que a humanidade percorreu (e que, na verdade, ainda percorre), do ponto de vista sócio comportamental, e que nos levou ao que hoje chamamos de sociedade organizada.
O autor aborda também como a pressão social e as dinâmicas estabelecidas ainda nas comunidades primitivas foram moldando, ao longo de milhares de gerações, certos comportamentos que explicam nossa necessidade em buscar eternamente pela felicidade, pelo poder e/ou pelo reconhecimento dos nossos pares.
Tudo começa na savana africana, quando fomos forçados a descer das arvores devido a mudanças climáticas e nos vimos desemparados no chão cercados por predadores. A luta primal pela sobrevivência levou às primeiras interações sociais entre os homo erectus com o intuito de melhorar as chances de sucesso na caça e também de proteção. Muito antes da revolução agrícola, que muitos tomam como o marco inicial da civilização, nossos ancestrais mais distantes já elaboravam estratégias de cooperação e benefícios mútuos, e prosperaram por causa delas.
A invenção do trabalho em equipe não só aumentou nossas chances de sobrevivência, como também nos fez evoluir intelectualmente com o compartilhamento de ideias e o constante refinamento de conceitos mais abstratos.
Quando nem tudo o mais a sua volta é sobre matar ou morrer, a mente cria espaço para elaborar e desejar coisas como felicidade, por exemplo. Neste ponto, nasce a hipótese do Cérebro Social, que associa a evolução cognitiva à sociabilidade recém adquirida pelos primeiros homens e também ao incrível poder de abstrair e inferir que o outro pensa diferente, o que o autor chama de Teoria da Mente. Enxergar o que as pessoas pensam de forma diversa abriu as portas para os conceitos de ensinar e aprender, de imaginar e inovar.
O homo sapiens é sábio não apenas porque desenvolveu a habilidade de pensar, de criar coisas ou de inventar a agricultura. Na verdade, o fato de termos dominado o cultivo de plantas e a domesticação de animais nos prendeu geograficamente e, junto a isso, também fincou raízes profundas na psique humana que nos governam até hoje. Propriedade, poder, hierarquia, comércio, riqueza e pobreza também são produtos da evolução do homem.
Para quem leu Sapiens: Uma Breve História da Humanidade, esses são conceitos familiares em que o autor Yuval N. Harari retrata a revolução agrícola como um engodo ou a “grande fraude da história humana” que, sem dúvidas, nos proporcionou uma série de benefícios, mas também uma enorme quantidade problemas que simplesmente não existiam antes.
Mas apesar dessas mazelas ou, quem sabe, por causa delas, a humanidade também vem elaborando, refinando e reinventando o conceito de felicidade que, claro, é inerente e particular para cada um nós.
O autor destaca que, como para a maioria, a civilização moderna traz muito mais oportunidades do que preocupações. Criou-se espaço, mais uma vez, para nossas mentes divagarem agora tentando preencher nossos vazios existenciais, com o que Von Hippel chama de Indulgencias Fenotípicas, que nada mais são do que prazeres que simulam a felicidade, sem de fato a propiciarem, como drogas ou consumismo, por exemplo.
Na ultima parte do livro, o autor nos apresenta um conjunto de elementos identificados pelas recentes ciências da psicologia evolutiva e da biologia comportamental sobre o que, preferencialmente, nos torna felizes de verdade, ressaltando, antes, que a felicidade não pode e não deve ser um estado permanente, mas a busca por uma vida prazerosa, sim. São eles:
(1) Permaneça no presente;
(2) Busque momentos doces;
(3) Projeta sua felicidade para permanecer saudável;
(4) Acumule experiências, não coisas;
(5) Dê prioridade a comida, amigos e relações sexuais;
(6) Coopere;
(7) Entranhe-se na comunidade;
(8) Aprenda coisas novas;
(9) Use suas forças (suas habilidades específicas); e
(10) Busque a fonte original (não se satisfaça apenas com as indulgências fenotípicas)
À exceção do fato dos capítulos serem um pouco desconexos entre si, é um livro interessantíssimo que vale a leitura para compreendermos um pouco mais nós mesmos como indivíduos e como humanidade. Boa leitura!
Notas sobre o autor: William Von Hippel cresceu no Alasca, formou-se em Yale e obteve seu doutorado na Universidade de Michigan. Lecionou por doze anos na Universidade Estadual de Ohio antes de ir para a Austrália, onde dá aulas de psicologia na Universidade de Queensland. Sua pesquisa já apareceu no The New York Times, USA Today, The Economist, BBC, Le Monde, El Mundo, Der Spiegel e The Australian.
Notas sobre a editora: HarperCollins Publishers é a segunda maior publicadora de livros comerciais do mundo, com operações em dezoito países. Com quase 200 anos de história e mais de 120 selos ao redor do mundo, possui um catálogo impresso e digital que ultrapassa 200 mil títulos, incluindo vencedores dos prêmios Nobel e Pulitzer, do National Book Award, das medalhas Newbery e Caldecott e do Man Booker Prize.
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