Semana passada começamos a falar sobre o modelo de inovação aberta e como este oferece alternativas mais interessantes e flexíveis em relação ao modelo tradicional. Porém, não é assim tão fácil para as empresas ”virarem a chave”. No artigo de hoje vamos falar um pouco sobre isso.
Vantagens e desafios da Inovação Aberta
Como observamos no modelo apresentado na parte 6, a troca de informação e de valor acontece de forma bidirecional pois, não somente as empresas se valem do conhecimento de outros elos da cadeia, como todo o sistema também se beneficia com os licenciamentos de patentes e de propriedade intelectual, que possibilitam a criação de novos modelos de negócios como joint ventures e spin-offs, por exemplo, e o uso de inovações que, de outro modo, permaneceriam no pipeline interno esperando por uma oportunidade de irem a mercado.
Essa riqueza intelectual, criativa e tecnológica gerada pela troca de conhecimento e ideias abre, literalmente, um mundo de vantagens competitivas. Um dos benefícios mais óbvios é a mitigação do risco inerente ao processo inovativo.
Com inovação aberta é muito mais provável que uma tecnologia vença o “vale da morte” e chegue ao mercado porque, ao compartilhar a busca pela solução do desafio, também está se compartilhando os aprendizados com as falhas inevitáveis que ocorrem durante o processo e que o retroalimentam para geração de ideias que cada vez mais se aproximem do Product Market Fit.
O modelo aberto talvez seja o melhor caminho que a empresa pode trilhar para potencializar suas chances de criar uma inovação radical ou com potencial de disrupção do mercado - antes - que a concorrência o faça, conforme vimos nos primeiros artigos.
O modelo colaborativo também permite que as inovações cheguem ao mercado de forma muita mais rápida e com melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, reduzindo os custos embutidos no esforço de inovação da empresa. As lições aprendidas em outros projetos também enriquecem outros ciclos de desenvolvimento e com isso economizam outro recurso corporativo valioso: tempo.
A inovação aberta não se presta apenas a reinventar o modelo tradicional de se fazer inovação. Serve muito bem também para empresas que desejam fomentar a cultura da inovação corporativa sem que isso implique em investimentos elevados em infraestrutura, recursos humanos altamente qualificados e propriedade intelectual.
É uma forma rápida, eficiente e provocativa de iniciar a mudança dentro com recursos de fora, inclusive, facilitando a adoção dos métodos ágeis na gestão de projetos de inovação, transformando a cultura organizacional, incluindo, profissionais mais engajados e colaborativos.
Mas isso não significa que adotar o modelo de inovação aberta seja fácil. Pelo contrário, pode ser bastante desafiador. Para começar, é preciso desenvolver metodologias e práticas para o compartilhamento de informações estratégicas com os potenciais parceiros a fim de mitigar o desconforto e preocupação com propriedade intelectual e vantagem competitiva.
Quando se fala em inovação aberta, normalmente, imagina-se grandes corporações interagindo com startups mas, na verdade, a proposta do modelo contempla também universidades, institutos tecnológicos e pesquisadores, porém, integrar esses atores na cadeia de inovação corporativa apresenta suas próprias dificuldades dado que historicamente sempre foi complicado fazer a ponte entre academia e mercado.
A falta de uma gestão da inovação bem orquestrada, de forma estruturada e transparente, também pode ser uma dificuldade em si, já que coordenar esforços e troca de informações entre atores dentro e fora da organização pode trazer mais caos do que soluções.
Essa dificuldade pode ser ainda enfatizada pela falta de cultura inovativa e é preciso ponderar se a resistência funcional irá prejudicar o processo de abertura colaborativa. Então, é preciso engajar as pessoas munido-as de sentimento de propósito e pertencimento e colocá-las no centro da transição entre paradigmas, sob pena da mudança organizacional fracassar.
“O problema em nossas organizações, não é a falta
de ideias disruptivas – temos muitas delas.
O verdadeiro problema é que, se você tentar conduzir a inovação dentro de uma organização tradicional, o sistema imunológico corporativo entrará em ação e você gastará todo o seu tempo lutando contra os anticorpos”
Salim Ismail
Exo Sprint – Exponential Transformation
Pessoas (o sistema imunológico das empresas) também são o desafio mais relevante para se obter uma cadeia horizontal bem sucedida no desenvolvimento de novas ideias pois é preciso que haja o alinhamento de interesses e de expectativas de todos os atores envolvidos dentro e fora do funil de inovação.
Além disso, optar pela inovação aberta precisa, antes de tudo, ser uma decisão estratégica orientada pela visão institucional, ponderando-se os prós e contras da mudança, que partes do funil de inovação serão alteradas primeiro, que parcerias serão estabelecidas e que modelo de inovação aberta será adotado, como veremos na oitava e última parte desta série de artigos quando falaremos dos tipos de inovação aberta.
Até lá!
Comments